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viniciusarauujo

Letrux estampa seu lado mais animalesco em terceiro disco de estúdio



A cantora e compositora Letrux lança nesta sexta-feira, 30 de Junho, seu terceiro disco de estúdio "Letrux Como Mulher Girafa". O álbum, produzido por João Brasil traz a participação especial de Lulu Santos na canção “Zebra” e apresenta 10 faixas inéditas, refletindo um estado de espírito da própria artista: ela mesma enquanto girafa, seu bicho-símbolo. “Tenho 1.85 de altura e por um tempo ‘girafa’ foi um apelido pejorativo que ganhei”, explica Letrux. “Mas logo percebi que a girafa era um bicho lindo e quem me chamasse assim, estava, na verdade, me elogiando”.


Processo Criativo


Efeito indireto de uma pandemia que encarou isolada num cantinho no meio do mato, as reflexões animalescas de Letrux foram se desenrolando nos últimos anos de modo bastante orgânico e, até então, sem pretensões de ganhar um corpo de disco.


Em 2020, quando fez as duas primeiras músicas, “Louva Deusa” e “Formiga”, Letrux não pensava que isso iria virar um álbum ou que um dia iria gravá-las. Para ela, “há músicas que existem pela necessidade do momento, mas que não se desenvolvem. De qualquer modo, alguma sementinha estava sendo plantada naquele instante sim”, reflete Letrux, sabendo que esta proximidade com o verde e a terra também auxiliou na geração de um instante criativo.


Isso sem falar no pescoço alto da girafa que tudo enxerga. Desse jeitinho, Letrux mirou até no que ela não via e, com tempo e calma, redirecionou suas ideias e começou a compor, pensar, ler e imaginar muitas coisas envolvendo animais. Deste ponto em diante as coisas foram se tornando mais visíveis e a construção de um álbum inédito desabrochou de vez.


“Ano passado li mais sobre os xamanistas falando sobre o animal de poder de cada um. E fiz uma relação com um jogo que é um teste psicológico que aprendi há anos e utilizo até hoje. Ele consiste em perguntar que bicho a pessoa quer ser e porquê. E isso vai gerando interpretações, até fiz uma música pra esse jogo, ela fecha o disco”, completa Letrux. “Acho que de tanto brincar desse jogo, eu pensei ‘é isso, tá na hora d’eu invocar de vez a mulher girafa’”.


E então, João Brasil, produtor musical e amigo de longa data de Letrux, surge como um aliado da artista para sonorizar o que ainda estava somente no campo das ideias. “João além de ser DJ, é formado em música também, na Berklee, e nos damos muito bem. No processo de mostrar as pré produções para a banda que gravou o disco, primeiro foi apenas João e eu, pirando, ouvindo meus embriões, pensando que tipo de batida poderíamos somar, que tipo de som de bichos queríamos acrescentar (há sons de leões, gaivotas, hienas, cavalos durante todo o disco)”, entrega Letrux. “Eu queria brincar com algo mais eletrônico, porque o João tem esse trabalho, mas sem perder algo de artesanal também, que é um pouco o que minha voz faz”, aponta a cantora.


Essas trocas ecoaram também na participação especial do cantor pop e hitmaker Lulu Santos, na sexta faixa do álbum, “Zebra”. Uma ode animalesca total, a canção traduz de modo muito preciso a identidade temática de Letrux Como Mulher Girafa.


“Lulu é um lord, gênio, uma pessoa admirável, talentoso até o último fio de cabelo. Amo a voz grave dele, e ele começa falando, bem gravão, amo. Acho que ele é uma mistura de zebra com um pássaro, que são justamente os bichos que têm na música dele. A zebra, porque ela é muito elegante e chic. E acho que ele também tem uma coisa de ave. De quem voa alto e dá cambalhotas no ar, mas sabe a hora de pousar, sabe a hora de pegar uma água, num rasante”.


Ao mesmo tempo, Lulu declara que Letrux “é uma ‘avis’ rara, um pássaro-do-paraíso, uma audiovisão inescapável. Não escapei, nem tentei. De lá pra cá tivemos triscadas eventuais que desembocam em ‘Zebra’”, ele complementa. “Chegando no estúdio me deparei com um track demolidor do João Brasil. Não foi difícil captar a onda telepaticamente. Afora isso, como ótima girafa que é, Lets sabia tudo o que queria - e sobretudo o que não queria na faixa. Foi obedecer desobedecendo, capice?”.



Os intervalos da girafa


"Letrux Como Mulher Girafa" revela ao ouvinte seis faixas curtas que se apresentam como “intervalos”, retalhos de bastidores de músicas que não chegaram a ser, mas que de algum modo também pertencem ao momento presente. “Acho que meu público tem uma curiosidade sobre minha vida além da minha obra, fico feliz com isso, querem saber como eu vivo, o que eu leio, o que eu gosto, então acho que quis dar esse presente, porque é muito íntimo, a gente ali, bem cru, sem edição alguma, brincando de compor. Gosto de mostrar que fazer um disco é uma saga”, pontua a cantora.


Estas amostras incompletas por si só também traduzem o lado mais subjetivo impresso neste novo trabalho de Letrux. De acordo com ela mesma, “tudo me confunde, eu confundo tudo, dias de copo cheio, dias de copo vazio. Um ar de fé e esperança sem o monstro no poder, mas ainda rastros do monstro no poder. É complicado”, ela continua. “Faço arte de forma independente porque é carma, é sina, é destino. Meu bicho não segue manadas, embora consiga admirar a beleza dos coletivos: bando, cardume, matilha. Mas meu animal é mais solitário e observador. Quero o que sempre quero com minhas obras: que a emoção que me atravessou a ponto d’eu criar essas músicas, também chegue a quem me escuta”.

E nessa coisa de todo mundo ser um pouco bicho, dá pra dizer que bicho grande é esse chamado Brasil? “Às vezes bicho preguiça (no melhor e no pior dos sentidos), às vezes tubarão branco, às vezes mico leão dourado. Não dá pra ser um bicho só num país desse tamanho”, diverte Letrux.

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